Desfantasia
FERNANDO OLMO
"Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar
Deixa o barco correr
Deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira
Que você me quer
O que você pedir, eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser…" [Chico Buarque de Hollanda]
Vandeilson gosta de ser chamado de Laleska. Trata-se de nenhuma fresca não… É um transexual sério! Sente-se mulher e é feliz… Trabalha, estuda, vai à igreja, paga as contas tudo direitinho e tem namorado. Oscar é o amado… Com eles ninguém zomba. Oscar é policial das forças especiais e tão forte que aos trocistas assombra. Já Laleska, linda, delicada e meiga, apita futebol… No campo, corre, faz gestos e silva: Pri… Pri… Pri…
“Era uma canção, um só cordão. E uma vontade. De tomar a mão. De cada irmão pela cidade”.
A porrada de Duda, dói. Luta como nenhuma outra. No boxe ela é campeã. Esporte que até ontem somente os homens eram os tais… Além do mais, é extremamente charmosa e cheia de vaidade num belo entorno escultural. Balzaquiana é a sua idade. De tanta conquista essa pugilista já foi capa de revista… Gay… Ela é gay, e daí?
“Era uma canção, um só cordão. E uma vontade. De tomar a mão. De cada irmão pela cidade”.
Em tempo de liberdade tem cara que fecha a cara e bate no peito:
- Sou florzinha não, comigo é na pancada, viu. Sou macho!
Porém, em casa o coitado é um esculacho… Sua companheira quer mesmo é lhe dar despacho. Bebe, bate, late, arranha… A mulher e os filhos apenas sofrem e apanham. Deixe de sanha amigo, aproveite enquanto é tempo e ganha pra ti os teus… Ama!
“Era uma canção, um só cordão. E uma vontade. De tomar a mão. De cada irmão pela cidade”.
- Ixi, sei não… O cabra passou vestindo rosa – disse um.
- E, qual a razão dessa prosa, uai? É só moda! Outro passou de vermelho, mais um de azul e outro ainda fez mecha no cabelo… Quanta beleza! É a diversidade que deixa bonita e faz a sociedade. Nessa idade é comum os homens se cobrir de trejeitos… É a mocidade. Deixe de maldade… – retrucou dois.
“Era uma canção, um só cordão. E uma vontade. De tomar a mão. De cada irmão pela cidade”.
O carro caiu da ponte. Um tanto de gente veio ver aquele acidente…
- Era mulher? Era homem? Era um lobisomem? – perguntavam.
E, foi uma mulher realmente quem despencou por conta de uma batida. Ocorre que isso só aconteceu por culpa de sinistro imprudente que bebeu um monte. Ela não teve culpa… O bêbado equilibrando veio com desculpas:
- El… Ela… ik… Nõum… Nõum… ik… Disviô… ik…
Mas, o agente da Lei com o bafômetro percebeu a presença da etílica substância e o pau d’água para delegacia rumou.
“Era uma canção, um só cordão. E uma vontade. De tomar a mão. De cada irmão pela cidade. No carnaval, esperança. Que gente longe viva na lembrança. Que gente triste possa entrar na dança. Que gente grande saiba ser criança…”
FELIZ CARNAVAL! Amor e paz!
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* FERNANDO OLMO é pedagogo, professor da rede pública estadual e conselheiro tutelar em Presidente Epitácio – SP [E-mail: fernandoolmoprof@hotmail.com]
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