sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

CRÔNICA DO OLMO - É preciso pará! [FERNANDO OLMO]


"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar os momentos e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem souber ver." PEDRO BIAL

Lutei como um valente enquanto a Terra girava pra cumprimentá o Sol... Nesse ínterim, no lombo do meu petiço mecânico fui protagonista de muitas histórias de rir e chorá, correndo pra lá e pra cá, sem cessá. Agora, nesse instante, pedindo arrego e cambaleante, digo que quero pará. Mas, não é que nessas alturas do ano ainda resta trabalho para eu terminá? Ah... Respingando suor e pedindo clemência, findo mais um dia com câimbras no pé e gemo com uma infantil inocência: - Cadê você Papai Noé?

Intolerante, noutro alvorecer, a cama me acorda e me empurra no dia que me rodopia igual a um pião: batendo nos cantos de um lado pro outro e fazendo alvoroço por esse rincão. Já pelas tantas, de volta ao meu canto, bem derribado digo a nêga-flô: - As férias não chegam não, minha dama, dona do meu divino amô?

Dia desses, com uma perna batendo e uma ponta no peito, pela madrugada pensei que a morte me veio buscá. Despedi da mulher e do broto amado mais lindo e querido, achando que nesse mundo não ia mais ficá. Defronte ao dotô, esse sorrindo já adiantô: - Por que esse pavor? O senhor não tem nada não... Na perna foi um espasmo e no peito flatulência... Para sarar isso é só os gases soltar empenhando potência... E, ademais, precisa parar para descansar, falô...

De volta pra casa, zangado e danado, deito e logo o meu leito me põe a acordá. No trajeto da lida com os olhos abertos estou a sonhá que as férias chegaram e que eu ia brincá. A moto galopa e desvia de cães, carros, galhos e gatos, mas não consegue arredá das coisas do á. Mirando em meu peito o peito da pomba me bate e prova que dois corpos não cabem no mesmo lugá. O bicho caiu dum lado e eu me esfreguei do outro e infelizmente, um dos dois estava morto. Para minha sorte, a morte levou a pombinha azarada que atravessou meu caminho no meio da estrada. Sua última marca deixou em meu couro: encheu-me de pena[s], lambuzou excrementos e fiquei como um porco... Imagine a cena! Na seqüência, ouvi um zunido. Eram os outros bichos que então, ameaçados, se ajuntaram em bando pra me atacá. Picada de vespa e de marimbondo por todos os pontos pra não vacilá... Até que um grito fugiu do meu peito pra fora, berrando: - Agora eu preciso  pará!

Retornei pro lar, extenuado, cagado e fedido... A minha querida quando me viu chegar aparou-me em seus braços e me pôs a sentá... Bradou: - Amô, o chefe ligô dizendo que suas férias chegô. Pediu pra você descansá... Viva! Nesse momento, ela e o meu rebento, mostraram as prendas pro Natal que o patrão generoso mandara ofertá... Tubaína, frango, toucinho de porco e um costelão de boi pra nóis assá... Sem fartá aquela da boa, que passarinho voa de perto pra não capotá...

Companheiro, presente melhor que esse no mundo não há... Família, trabalho, fartura e um breve descanso pra não estafá...


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